O POP DE LÍNGUA PRESA, OU MELHOR: O NOSSO “SOPA DE MAÇÃ AMASSADINHA”
Ele era rico, mas sua ideologia era a de mudar o mundo com um coração partido. Cazuza fez dos anos oitenta, sem pretensão, os anos mais breves de sua vida. Tudo foi muito rápido para os que assistiram tudo de cima do muro. Aquele garoto que gostava de Lupicínio e amava Dalva de Oliveira, já na metade da década, podia ouvir Caetano, Ney e outros cartolas cantarem suas músicas. Era filho do presidente de uma grande gravadora, mas como era exagerado, sorvia tudo que escorria das fontes produtoras de músicas. Como um bom burguês, ele amava Caetano, ouvia Nelson Gonçalves, mas cantava o que fazia sangrar o sangue dos inimigos. Ele introduziu a dor-de-cotovelo-pop.
Agenor de Miranda Araújo Neto veio ao mundo no dia 4 de abril de 1958 para viver 32 anos, fazer parte da banda Barão Vermelho e com ela gravar três discos, seis LP’s solo, sendo que o LP Burguesia, é duplo. Como era de veneta, soltou o último disparo antes da hora da partida, mais um disco, o póstumo Por Aí. No seu currículo também estava a condição de ser filho único da Lucinha e do João, e por eles, ser amado, mimado e defendido até a morte, no triste dia 7 de julho de 1990. Infelizmente não se pode mudar o que já passou. Uma trajetória como a de Cazuza, não é feita ou arquitetada na mesa de um produtor artístico, simplesmente é vivida. A interpretação própria da vida, talvez possa ser compreendida na letra da música Vida Louca Vida, de 1989. Cazuza diz na composição, estar cansado de tanta babaquice, tanta caretice, dessa eterna falta do que falar. Aquele artista cheio de energia que em 1982 cantava Pro Dia Nascer Feliz, agora pedia à vida para levar-lhe, já que não podia levá-la. Era o fim da imensa vida breve. Ele partiu num trem para as estrelas e de lá, sem poder assistir o filme sobre sua vida, deve ter dito com aquela cara de menino, faz parte do meu show. Ora bolas!
2 comentários:
Muito bom Josué. Sempre gostei de Cazuza, e comparaçao procede. ODAIR tem a cara dos anos 70. Tenho certeza que fosse vivo, Cazuza teria participado do tributo.
Cara, um dos textos que mais gostei sobre o Cazuza, brigado. Só um pequeno lembrete, a música vida louca vida foi composta por Lobão (mas este mesmo, numa entrevista, declarou que, pela interpretação, Cazuza tomou a canção para si)
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